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Medicamentos para alcoolismo são seguros para quem tem cirrose?

22 Fevereiro 2024

Um estudo recente analisou o uso de medicamentos para transtorno por uso de álcool em pacientes com cirrose, visto ser escassa a segurança e eficácia desses medicamentos nessa população.

Um estudo recente analisou o uso de medicamentos para promover a abstinência de álcool em pacientes com dependência e cirrose decorrente do consumo[1]. Por meio de uma pesquisa englobando vários estudos, foi possível avaliar se os medicamentos reduziram o consumo ou promoveram a abstinência e se houve segurança quanto aos efeitos colaterais para pessoas com problemas no fígado. 

O fígado, principal órgão responsável pelo metabolismo do álcool, sofre lesões devido ao consumo excessivo, caracterizando a doença hepática alcoólica. Esta pode variar desde alterações assintomáticas, como gordura no fígado (esteatose hepática), a hepatite alcoólica e cirrose alcoólica. O diagnóstico precoce e a abstinência são fundamentais na estratégia de tratamento da doença hepática alcoólica, especialmente em estágios iniciais, onde ainda não há danos irreversíveis e descompensação hepática[2].

A presença de cirrose alcoólica e suas complicações podem alterar a ação de medicamentos, impactando a segurança do uso e aumento dos efeitos colaterais. Portanto, as características da medicação e a maneira como é administrada devem sempre ser consideradas em pacientes cirróticos.  

Uma vez que as opções de tratamento clínico são limitadas para melhorar a função hepática em pacientes com cirrose, a abstinência alcoólica é a intervenção terapêutica mais importante e comprovada[3]. No entanto, muitos pacientes têm dificuldade em alcançar a abstinência. As medicações aprovadas para o transtorno por uso de álcool incluem: naltrexona, que auxilia a reduzir o consumo excessivo de álcool; o acamprosato, que facilita a manutenção da abstinência; e o dissulfiram, que bloqueia o metabolismo do álcool pelo organismo, causando sintomas desagradáveis como náuseas e vermelhidão da pele. Outras medicações, como o baclofeno, gabapentina, sertralina e o topiramato, também são estudadas[4]. Entre eles, apenas o baclofeno demonstrou ser seguro e eficaz na manutenção da abstinência em indivíduos com doença hepática[5].

Buscando analisar os efeitos colaterais e eficácia de medicações em pacientes com cirrose ou doença hepática, mesmo com limitação pelo nível baixo de estudos encontrados, o estudo indicou que o uso das medicações pode aumentar a probabilidade de abstinência de álcool em 32% em comparação com placebo ou tratamento padrão. Além disso, o perfil de segurança desses medicamentos foi considerado adequado na maioria dos estudos, sugerindo que podem ser uma alternativa para o tratamento de pacientes com cirrose alcoólica. No entanto, é importante ressaltar a necessidade de mais pesquisas, especialmente em pacientes com doença hepática avançada, para confirmar esses achados e avaliar a segurança desses medicamentos nessa população vulnerável[1].

Portanto, se você ou alguém que conhece está lidando com o transtorno por uso de álcool e cirrose, é fundamental seguir as recomendações médicas. O tratamento adequado pode aumentar significativamente a qualidade de vida e a sobrevida. 

 

 

Additional Info

  • Referências:

    1. Gratacós-Ginès, J., Bruguera, P., Pérez-Guasch, M., López-Lazcano, A., Borràs, R., Hernández-Évole, H., Pons-Cabrera, M. T., Lligoña, A., Bataller, R., Ginès, P., López-Pelayo, H., & Pose, E. (2024). Medications for alcohol use disorder promote abstinence in alcohol-associated cirrhosis: Results from a systematic review and meta-analysis. Hepatology (Baltimore, Md.), 79(2), 368–379. https://doi.org/10.1097/HEP.0000000000000570

     2. Addolorato G., Mirijello A., Barrio P., Gual A. Treatment of alcohol use disorders in patients with alcoholic liver disease. J. Hepatol. 2016;65:618–630. doi: 10.1016/j.jhep.2016.04.029.

     3. O'Shea, R. S., Dasarathy, S., McCullough, A. J., Practice Guideline Committee of the American Association for the Study of Liver Diseases, & Practice Parameters Committee of the American College of Gastroenterology (2010). Alcoholic liver disease. Hepatology (Baltimore, Md.), 51(1), 307–328. https://doi.org/10.1002/hep.23258

    4. Jonas, D. E., Amick, H. R., Feltner, C., Bobashev, G., Thomas, K., Wines, R., Kim, M. M., Shanahan, E., Gass, C. E., Rowe, C. J., & Garbutt, J. C. (2014). Pharmacotherapy for adults with alcohol use disorders in outpatient settings: a systematic review and meta-analysis. JAMA, 311(18), 1889–1900. https://doi.org/10.1001/jama.2014.3628

    5. Addolorato, G., Leggio, L., Ferrulli, A., Cardone, S., Vonghia, L., Mirijello, A., Abenavoli, L., D'Angelo, C., Caputo, F., Zambon, A., Haber, P. S., & Gasbarrini, G. (2007). Effectiveness and safety of baclofen for maintenance of alcohol abstinence in alcohol-dependent patients with liver cirrhosis: randomised, double-blind controlled study. Lancet (London, England), 370(9603), 1915–1922. https://doi.org/10.1016/S0140-6736(07)61814-5

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