O uso nocivo de álcool é mais um dos desafios impostos diante do envelhecimento da população brasileira. Análises realizadas pelo CISA – Centro de Informações sobre Saúde e Álcool, apontam crescimento tanto das mortes associadas ao álcool quanto do consumo abusivo da substância entre pessoas com 55 anos ou mais no Brasil.
Embora este texto se baseie nos dados do publicação Álcool e a Saúde dos Brasileiros: Panorama 2024*, vale antecipar que, em 12 de novembro, o CISA publicará o Panorama 2025, com séries atualizadas e um olhar ainda mais detalhado sobre a população com 55 anos ou mais. A nova edição, que estará disponível para download no site do CISA, aprofunda justamente os pontos discutidos aqui: evolução das mortes atribuíveis ao álcool, padrões de consumo e prioridades de cuidado no envelhecimento, oferecendo um quadro mais recente para orientar ações de prevenção e assistência.
No levantamento feito a partir dos dados processados para a publicação Álcool e a Saúde dos Brasileiros: Panorama 2024*, indica que os óbitos atribuíveis ao álcool afetam mais a população acima de 55 anos, e isso tende a aumentar. A faixa etária com 55 anos ou mais foi a única que registrou aumento de mortes associadas ao álcool entre 2010 e 2022, com um crescimento de 29,4% no período. Entre as mulheres, a ampliação foi superior, atingindo 33,6%, enquanto o aumento observado entre os homens foi de 27,6%. Apesar dessa diferença, os homens continuam sendo as maiores vítimas, representando 68% dessas mortes.
Em termos numéricos, os óbitos atribuíveis ao álcool na faixa etária de 55 anos ou mais anos aumentaram de 30.471 em 2010 para 39.440 em 2022 na população total. Para os homens, o número subiu de 21.043 para 26.844, e para as mulheres, de 9.428 para 12.595. É notável que todas as outras faixas etárias registraram queda de mortes associadas ao álcool, principalmente a faixa etária jovem.
Em relação às causas das mortes nesta faixa etária, observa-se que os idosos tendem a sofrer mais com os efeitos de longo prazo do uso de álcool. A população idosa é mais afetada por condições de saúde que se agravam com o uso contínuo de álcool. Também há uma diferença notável entre homens e mulheres nas causas de óbito. Enquanto os jovens são mais afetados por causas externas, como violência e acidentes de trânsito associados ao uso de álcool, os mais velhos tendem a ser mais acometidos por doenças crônicas, como a hipertensão, o câncer e o próprio alcoolismo.
As principais causas de óbitos por uso de álcool na faixa etária de 55 anos ou mais anos variaram por sexo. Entre os homens, as principais causas estão a Doença alcoólica do fígado (21%), Transtornos por uso de álcool (15%), Fibrose e cirrose hepáticas (7%) e Câncer de colon (4%). Para as mulheres, as principais causas foram Hipertensão (7,9%), Fibrose e cirrose hepáticas (7,8%), Pneumonia (7,0%) e Câncer de colon (5,8%). Outras causas de óbito citadas incluem Fibrose e cirrose hepáticas e Câncer de esôfago.
Principais causas de óbitos por uso de álcool na faixa etária 55+ anos
Fonte: CISA, com dados do Datasus
Outro dado que chama a atenção é o aumento do consumo abusivo de álcool por pessoas com 55 anos ou mais, que é caracterizado pela ingestão de grande quantidade da substância em um curto período de tempo. Em 2010, 8,9% dos brasileiros nesta faixa etária relataram esse padrão de consumo, e em 2023, esse índice subiu para 10,6%. O consumo abusivo é maior entre homens (11,3%) do que entre as mulheres (9,6%). É relevante notar que o pico de prevalência na série histórica foi observado em 2021, atingindo 13,4%, com picos nos dois primeiros anos da pandemia (2020 e 2021).
O envelhecimento pode diminuir a tolerância do corpo ao álcool devido a uma série de alterações fisiológicas e na composição corporal. Com a idade, há redução da água corporal total e da massa magra, o que diminui o volume de distribuição do álcool e eleva o pico de alcoolemia para a mesma dose. Somam-se menor metabolismo de primeira passagem, redução do fluxo sanguíneo e do volume hepático com depuração mais lenta, além de maior sensibilidade do sistema nervoso central aos efeitos do álcool. Alterações de equilíbrio e visão, propensão à hipotensão ortostática e sono mais fragmentado aumentam ainda mais o risco de quedas e confusão após beber. Além disso, há outros fatores de risco que são relativamente comuns nessa faixa etária e que podem contribuir para o uso nocivo de álcool, como a viuvez, solidão, perda de amigos, aposentadoria e isolamento social.
O cenário é considerado preocupante se levarmos em conta o fato de esta ser uma parcela da população mais sensível aos efeitos do álcool, exigindo que os cuidados com a saúde sejam redobrados. Soma-se a isso o crescimento acelerado da população idosa no Brasil, o que demanda urgência na implementação de programas voltados para o envelhecimento saudável, incluindo campanhas de prevenção ao uso nocivo de álcool.