Jogos de bebida, embora perigosos, continuam sendo frequentes nos ambientes universitários. O perigo ocorre porque nesse tipo de “brincadeira”, as pessoas tendem a beber mais e de forma mais rápida do que o habitual, o que dificulta o controle sobre a quantidade de álcool ingerida e traz diversos riscos para a saúde.
Um novo estudo [1], publicado em dezembro de 2023, realizou uma revisão sistemática englobando diversas pesquisas científicas sobre jogos envolvendo bebidas alcoólicas (jogos de beber ou, do inglês, “drinking games”) em contexto universitário. Ao todo, foram incluídas 34 pesquisas sobre o assunto, totalizando uma amostra composta com mais de 34 mil participantes. Dentre as variáveis analisadas, destacam-se as motivações para consumo, consequências negativas associadas e dinâmicas de gênero.
Embora possa existir grande variabilidade cultural entre as várias práticas de jogos de beber, todas elas envolvem uma atividade social que tem como objetivo o consumo pesado de bebidas alcoólicas, seja de forma competitiva ou não-competitiva. Os riscos neste contexto são de diversas ordens, desde queda no desempenho acadêmico até consequências graves para a saúde, como sexo desprotegido, acidentes, violência e diversos outros problemas de saúde física e mental.
Para esta população universitária de 18 a 25 anos, a prevalência de engajamento em jogos de beber foi estimada entre 65% e 92%, sendo ligeiramente mais comum entre homens. O que os estudos mostram é que há clara percepção dos riscos associados ao consumo intenso de álcool, mas que isto não se apresenta como um fator limitante para a participação nos jogos que envolvam esta tarefa. Mais ainda, tais jogos – e os riscos envolvidos – são frequentemente considerados uma “medalha de honra” (do inglês “badge of honor”).
Um motivo importante relatado para a participação nos jogos de beber é a redução da tensão e ansiedade social. Nesse sentido, alguns dos estudos analisados apontam maiores consequências negativas em pessoas que apresentam traços de personalidade associados à ansiedade social. Além deste aspecto da tensão social, outro fator contribuinte para a perpetuação dos jogos de beber é o conceito de “internalização da cultura de beber universitária” (do inglês “Internalization of the College Drinking Culture”); este conceito avalia o quanto os indivíduos no contexto universitário se identificam com a cultura de beber presente no ambiente universitário. Os estudos apontam que, quanto maior for a internalização dessa cultura, isto é, quanto maior a identificação do indivíduo com a cultura de beber, maiores os riscos e consequências negativas associadas à participação nos jogos de beber.
Por fim, outro fator importante encontrado nos estudos foi a convergência de gêneros (do inglês “gender convergence”). Esse conceito indica que a participação de mulheres em jogos de beber vem se igualando à participação de homens, e que, portanto, a disparidade entre os gêneros vem desaparecendo nesse quesito, o que seria explicado pela maior presença de mulheres no ambiente universitário e pela mudança observada na relação das mulheres com o álcool, como vem alertando o CISA.
À luz desses resultados, os autores alertam para a necessidade de mais pesquisas sobre a temática de consumo de álcool no contexto universitário, e em especial ao consumo feito em jogos de beber, dado que tal prática se associa a diversas consequências negativas. Um dos pontos essenciais para a melhor compreensão do tema é determinar quais fatores influenciam de maneira mais significativa as consequências negativas decorrentes do consumo intenso de álcool em jogos de beber.
