Nos últimos dias, diversos casos alarmantes de intoxicação por metanol foram notificados, principalmente no estado de São Paulo. Vítimas foram acometidas por sintomas graves como cegueira, dores intensas e falência de órgãos, alguns evoluindo, infelizmente, para desfechos fatais. Com isso, esses acontecimentos reacenderam o alerta sobre os riscos envolvidos no consumo de bebidas alcoólicas ilegais.
Álcool ilegal, também conhecido como álcool “não registrado”, abrange três grandes categorias de bebidas: caseiras ou artesanais fabricadas informalmente, bebidas falsificadas ou contrabandeadas e bebidas “substitutas”, que são inapropriadas para ingestão humana, como perfumes e produtos de limpeza. Basicamente, as bebidas ilegais são aquelas que, de alguma maneira, não seguem os padrões de qualidade e/ou de taxação exigidos por um país [1].
É importante distinguir os termos “álcool ilegal” e “não registrado”. Enquanto todo álcool ilegal é considerado não registrado, nem todo álcool não registrado é ilegal. Por exemplo, uma bebida alcoólica legal em um país, mas consumida em outro onde não é registrada, não é necessariamente ilegal. Ou seja, essas categorias são similares, mas possuem diferenças significativas.
O último relatório da Organização Mundial de Saúde (OMS) estimou que cerca de 21% do consumo de álcool no mundo não foi registrado [2]. O álcool ilegal, ao não seguir normas sanitárias e tributárias, acarreta consequências econômicas e de saúde pública. Sua composição é variável e pode conter, além de etanol e água, resíduos de fermentação, aditivos, aromatizantes e subprodutos perigosos, como o metanol.
O metanol é um tipo de álcool industrial utilizado em produtos como combustíveis, solventes e anticongelantes, não sendo próprio para o consumo humano. Quando ingerido, mesmo em pequenas quantidades, o metanol é metabolizado no organismo em substâncias extremamente tóxicas, como o formaldeído e o ácido fórmico, que podem causar náuseas, tontura, dificuldade para respirar, visão turva e, em casos graves, cegueira permanente, coma e morte. Por isso, sua presença em bebidas alcoólicas ilegais representa um risco severo à saúde pública.
As bebidas alcoólicas podem ser adulteradas intencionalmente com metanol barato para aumentar o lucro e a potência das bebidas. Entre 2017-2019, foram notificadas aproximadamente 7.104 pessoas intoxicadas e mais de 1.888 mortes em 306 surtos registrados de envenenamento por metanol no mundo, com mais de 90% tendo ocorrido na Ásia, sendo as principais vítimas homens jovens [3]. Além disso, o metanol ocorre naturalmente na maioria das bebidas alcoólicas, originando-se da degradação da pectina durante a fermentação e pode atingir altas concentrações durante a destilação inadequada, particularmente em aguardentes de frutas (até 2,4% em volume) [3]. O máximo de metanol permitido nos destilados pela legislação brasileira é 20,0 mg/mL de álcool anidro.
Uma equipe de pesquisadores e engenheiros do Laboratório de Tecnologia de Partículas e do Hospital Universitário de Zurique criou um dispositivo para medir a quantidade de metanol em uma bebida alcoólica [3]. O dispositivo, que foi projetado para ser acessível à população, envia os dados coletados para um smartphone associado a um aplicativo que exibe os níveis de metanol e etanol na bebida. Ele também avisa se o nível estiver acima do limite. Mas, infelizmente, o dispositivo ainda não está disponível no mercado.
Sem identificação adequada, não é possível assegurar a originalidade da bebida, aumentando o risco de consumir produtos falsificados, adulterados ou até mesmo perigosos. Para evitar o consumo de álcool ilegal, considere as seguintes orientações:
- Fique atento a características atípicas na bebida, como odores estranhos, cores e consistência incomuns;
- Desconfie de preços muito abaixo do mercado, sobretudo em comércios online;
- Examine a embalagem e o rótulo para verificar se as informações estão claras e completas. O lacre também deve estar intacto. Fique atento a rótulos impressos em má qualidade e com erros ortográficos. Uísque, gim, vodca e cachaça são as bebidas falsificadas com maior frequência;
- Prefira comprar de fontes confiáveis, com boa reputação e que forneçam nota fiscal;
- Informe-se sobre as marcas e produtos locais legítimos. Cuidado com marcas que você nunca viu.
A atenção e a informação são as melhores formas de prevenção contra intoxicações e outros graves danos à saúde.