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Como se proteger das bebidas ilegais e falsificadas

By CISA 06 Outubro 2025

O consumo de bebidas alcoólicas ilegais representa um grave risco à saúde. Casos recentes de intoxicação por metanol reforçam a importância de estar atento à procedência do que se consome. O metanol, substância altamente tóxica usada de forma irregular na produção de bebidas falsificadas, pode causar danos irreversíveis, como cegueira e até morte. Entenda os perigos do álcool ilegal e saiba como se proteger.

 

Nos últimos dias, diversos casos alarmantes de intoxicação por metanol foram notificados, principalmente no estado de São Paulo. Vítimas foram acometidas por sintomas graves como cegueira, dores intensas e falência de órgãos, alguns evoluindo, infelizmente, para desfechos fatais. Com isso, esses acontecimentos reacenderam o alerta sobre os riscos envolvidos no consumo de bebidas alcoólicas ilegais. 

Álcool ilegal, também conhecido como álcool “não registrado”, abrange três grandes categorias de bebidas: caseiras ou artesanais fabricadas informalmente, bebidas falsificadas ou contrabandeadas e bebidas “substitutas”, que são inapropriadas para ingestão humana, como perfumes e produtos de limpeza. Basicamente, as bebidas ilegais são aquelas que, de alguma maneira, não seguem os padrões de qualidade e/ou de taxação exigidos por um país [1]. 

É importante distinguir os termos “álcool ilegal” e “não registrado”. Enquanto todo álcool ilegal é considerado não registrado, nem todo álcool não registrado é ilegal. Por exemplo, uma bebida alcoólica legal em um país, mas consumida em outro onde não é registrada, não é necessariamente ilegal. Ou seja, essas categorias são similares, mas possuem diferenças significativas. 

O último relatório da Organização Mundial de Saúde (OMS) estimou que cerca de 21% do consumo de álcool no mundo não foi registrado [2]. O álcool ilegal, ao não seguir normas sanitárias e tributárias, acarreta consequências econômicas e de saúde pública. Sua composição é variável e pode conter, além de etanol e água, resíduos de fermentação, aditivos, aromatizantes e subprodutos perigosos, como o metanol. 

O metanol é um tipo de álcool industrial utilizado em produtos como combustíveis, solventes e anticongelantes, não sendo próprio para o consumo humano. Quando ingerido, mesmo em pequenas quantidades, o metanol é metabolizado no organismo em substâncias extremamente tóxicas, como o formaldeído e o ácido fórmico, que podem causar náuseas, tontura, dificuldade para respirar, visão turva e, em casos graves, cegueira permanente, coma e morte. Por isso, sua presença em bebidas alcoólicas ilegais representa um risco severo à saúde pública.

As bebidas alcoólicas podem ser adulteradas intencionalmente com metanol barato para aumentar o lucro e a potência das bebidas. Entre 2017-2019, foram notificadas aproximadamente 7.104 pessoas intoxicadas e mais de 1.888 mortes em 306 surtos registrados de envenenamento por metanol no mundo, com mais de 90% tendo ocorrido na Ásia, sendo as principais vítimas homens jovens [3]. Além disso, o metanol ocorre naturalmente na maioria das bebidas alcoólicas, originando-se da degradação da pectina durante a fermentação e pode atingir altas concentrações durante a destilação inadequada, particularmente em aguardentes de frutas (até 2,4% em volume) [3]. O máximo de metanol permitido nos destilados pela legislação brasileira é 20,0 mg/mL de álcool anidro. 

Uma equipe de pesquisadores e engenheiros do Laboratório de Tecnologia de Partículas e do Hospital Universitário de Zurique criou um dispositivo para medir a quantidade de metanol em uma bebida alcoólica [3]. O dispositivo, que foi projetado para ser acessível à população, envia os dados coletados para um smartphone associado a um aplicativo que exibe os níveis de metanol e etanol na bebida. Ele também avisa se o nível estiver acima do limite. Mas, infelizmente, o dispositivo ainda não está disponível no mercado. 

Sem identificação adequada, não é possível assegurar a originalidade da bebida, aumentando o risco de consumir produtos falsificados, adulterados ou até mesmo perigosos. Para evitar o consumo de álcool ilegal, considere as seguintes orientações: 

  1. Fique atento a características atípicas na bebida, como odores estranhos, cores e consistência incomuns;
  2. Desconfie de preços muito abaixo do mercado, sobretudo em comércios online;
  3. Examine a embalagem e o rótulo para verificar se as informações estão claras e completas. O lacre também deve estar intacto. Fique atento a rótulos impressos em má qualidade e com erros ortográficos. Uísque, gim, vodca e cachaça são as bebidas falsificadas com maior frequência; 
  4. Prefira comprar de fontes confiáveis, com boa reputação e que forneçam nota fiscal; 
  5. Informe-se sobre as marcas e produtos locais legítimos. Cuidado com marcas que você nunca viu. 

 

A atenção e a informação são as melhores formas de prevenção contra intoxicações e outros graves danos à saúde.

 

 

Additional Info

  • Referências:

    1 - Centro de Informações sobre Saúde e Álcool (CISA). Álcool e a Saúde dos Brasileiros: Panorama 2020. (2020). São Paulo.

    2 - Organização Mundial da Saúde (OMS). Global Status Report on alcohol and health and treatment of substance use disorders 2024.

    3 - Abegg, S., Magro, L., van den Broek, J. et al. A pocket-sized device enables detection of methanol adulteration in alcoholic beverages. Nat Food 1, 351–354 (2020). https://doi.org/10.1038/s43016-020-0095-9

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