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Quais complicações do uso excessivo de álcool em idosos? Confira entrevista do Dr. Arthur Guerra para o Instituto Lado a Lado.

 Consumo de álcool por pessoas acima de 60 anos pode trazer sérias consequências para a saúde e até mesmo levar a óbito.

Período fetal, adolescência e envelhecimento são os três momentos em que a saúde cerebral pode ser mais afetada pelo consumo do álcool

O uso frequente e excessivo de álcool na terceira idade pode aumentar riscos de complicações de saúde e óbitos.

O isolamento social pode ser um problema para muitos idosos, com consequências negativas para sua saúde, incluindo o abuso de álcool. Com a COVID-19, esse problema agrava-se durante a quarentena e gera preocupação entre especialistas. Confira o que pode ser feito para dar apoio aos idosos neste período.

Pesquisa norte-americana sugere que beber pouco ou moderadamente pode ter efeitos protetores das funções cognitivas entre adultos de meia-idade e idosos.

 

Os resultados de um estudo publicado em junho na revista científica Jama Network Open indicam que o consumo leve a moderado de álcool pode atenuar o declínio cognitivo relacionado ao envelhecimento. A partir dos dados do estudo longitudinal Health and Retirement Study (HRS), uma pesquisa investigou o consumo de álcool e o declínio das funções cognitivas – linguagem, memória, atenção e percepção - relacionado à idade entre adultos de meia idade e idosos norte-americanos. No total, 19.887 pessoas participaram do estudo, que contou com três levantamentos bienais realizados entre 1996 e 2008. A média de idade dos participantes era de 61,8 anos, sendo a maioria do sexo feminino (60,1%).

O funcionamento cognitivo foi avaliado por meio de testes de recordação de palavras, estado mental e vocabulário. Já o consumo de álcool foi mensurado a partir das perguntas: “Você já tomou alguma bebida alcoólica, como cerveja, vinho ou destilado?”; “Nos últimos 3 meses, em média, em quantos dias por semana você bebeu?”; e "Nos últimos 3 meses, nos dias em que você bebeu, quantas doses você consumiu?". A partir das respostas, os participantes foram categorizados como:

  • Abstêmios: quem nunca bebeu;
  • Ex-bebedores: quem já tomou alguma bebida, mas não nos 3 meses anteriores à pesquisa;
  • Bebedores atuais: quem bebeu nos 3 meses anteriores à pesquisa.

 

A seguir, os bebedores atuais foram classificados de acordo com seu padrão de consumo (frequência e volume ingerido). Uso leve a moderado foi considerado como aquele abaixo de 8 doses por semana para mulheres ou abaixo de 15 doses por semana para homens; acima desses níveis foi considerado uso pesado. Fatores como idade, sexo, etnia, escolaridade, estado civil, tabagismo e índice de massa corporal foram considerados nas análises.

Os resultados indicaram que o consumo leve a moderado de álcool estava associado a melhores resultados nos domínios avaliados (estado mental, recordação de palavras e vocabulário). Em comparação com os abstêmios, os participantes cujo consumo de álcool era leve a moderado apresentaram taxas mais lentas de declínio cognitivo ao longo do tempo.

Esses dados sugerem que beber pouco ou moderadamente pode ter efeitos protetores das funções cognitivas, apesar de ainda não serem esclarecidos os mecanismos subjacentes a essa associação. Os autores da pesquisa ainda reforçam que campanhas de saúde pública ainda são necessárias para reduzir o consumo de álcool entre norte-americanos adultos de meia-idade e idosos, especialmente entre homens, considerando que o consumo nocivo está associado a danos nessas funções cognitivas e a outros prejuízos para a saúde. 

 

Estudo aponta que o processo natural de envelhecimento associado ao uso nocivo do álcool pode prejudicar a condição motora como marcha, equilíbrio e habilidades finas além de comprometer a qualidade de vida.

 

O consumo excessivo de álcool tem sido associado a diversos prejuízos à saúde, mas recentemente, pesquisas têm destacado seu impacto significativo no envelhecimento cerebral. Este artigo explora como a ingestão elevada de álcool pode acelerar o processo de envelhecimento do cérebro e afetar a flexibilidade comportamental.

Aceleração do Envelhecimento Cerebral por Consumo de Álcool

Pesquisas têm demonstrado que o consumo pesado de álcool pode levar a um envelhecimento cerebral mais rápido. Estudos como o de Battista et al. (2025) usaram algoritmos de aprendizado de máquina em imagens de ressonância magnética para evidenciar que maiores escores no AUDIT (questionário desenvolvido pela Organização Mundial da Saúde para identificar padrões prejudiciais de consumo de álcool) estão correlacionados com um envelhecimento cerebral acelerado, associado a uma maior incidência de erros perseverativos em tarefas que medem a flexibilidade comportamental.1

Impacto Comportamental do Envelhecimento Cerebral

A flexibilidade comportamental, que é a capacidade de adaptar comportamentos em resposta a mudanças ambientais, é significativamente afetada pelo consumo de álcool. Um estudo detalhado realizado com dados do UK Biobank, envolvendo mais de 36.000 adultos, descobriu que até mesmo níveis moderados de consumo de álcool estão associados a mudanças significativas no cérebro.2 A pesquisa mostrou que as associações negativas entre a ingestão de álcool e a estrutura cerebral, tanto em termos de volume global de matéria cinza quanto de integridade da matéria branca, já são aparentes em indivíduos que consomem uma média de apenas uma a duas unidades de álcool diariamente. 

Evidências Genéticas do Impacto do Álcool no Envelhecimento Biológico

Além dos estudos comportamentais e de neuroimagem, análises genéticas também apontam para o efeito acelerador do álcool no envelhecimento. Um estudo conduzido pela Universidade de Oxford utilizou a randomização mendeliana para analisar a relação entre o consumo de álcool e o comprimento dos telômeros.3 A pesquisa revelou que um maior risco genético para o transtorno do uso de álcool estava associado a telômeros significativamente mais curtos. Esta associação destaca uma relação causal entre uma predisposição genética para altos níveis de consumo de álcool e uma aceleração do envelhecimento biológico. O estudo demonstra que o impacto do álcool se estende para além das funções cerebrais, atingindo o nível genético e acelerando o envelhecimento celular, o que pode contribuir para o desenvolvimento de doenças relacionadas à idade.

Em resumo, o conjunto das evidências reforça a necessidade de abordagens preventivas e intervenções focadas na redução do consumo de álcool para preservar a saúde cerebral e retardar o envelhecimento. As implicações destas descobertas são cruciais tanto para indivíduos quanto para políticas públicas de saúde.



 

 

 

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