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Pesquisa nacional revela perfil do consumo de álcool no Brasil: metade dos adultos bebe, e quase 1 em cada 5 admite exagerar na dose.

Uma pesquisa do Instituto Datafolha1, realizada em abril de 2025, revelou que 49% dos brasileiros com 18 anos ou mais costumam consumir bebidas alcoólicas. A maior porcentagem (20%) bebe de uma a duas vezes por semana, enquanto 3% disseram consumir álcool quase diariamente. Outros 13% relataram beber com menor frequência, uma vez por mês ou menos.

Homens (ainda) bebem mais — e com mais frequência

O levantamento apontou que o consumo ainda é mais prevalente entre os homens: 58% deles consomem bebidas alcoólicas, contra 42% das mulheres. Além disso, eles também bebem com mais frequência: 10% dos homens bebem de três a sete dias por semana, índice que cai para 2% entre as mulheres. 

Pesquisas mostram, no entanto, que a prevalência de mulheres que bebem vem aumentando ao longo dos anos. Dados do último relatório Álcool e a Saúde dos Brasileiros com base no Vigitel2 mostram que o consumo não abusivo de álcool por mulheres subiu de 16,5% para 22,8% entre 2010 e 2023. Já o padrão abusivo subiu de 10,5% para 15,2% no mesmo período. 

Idade, renda e religião influenciam o hábito

O consumo é mais prevalente entre os jovens de 18 a 34 anos, com 58% relatando o hábito. Esse percentual vai diminuindo com a idade: cai para 46% na faixa de 45 a 59 anos, e para 35% entre os maiores de 60. 

A renda também tem impacto. Entre os que ganham de 5 a 10 salários mínimos, o consumo chega a 64%, enquanto na faixa de até 2 salários mínimos, apenas 43% relatam consumir bebidas alcoólicas.

A religião aparece como outro fator relevante: 27% dos evangélicos consomem álcool, comparados a 58% dos católicos. 

A pesquisa do Ipec3, feita a pedido do CISA em 2023, também mostrou um cenário parecido: os jovens 18-34 anos são os que apresentam menor nível de abstenção (25% apenas não bebem) e maior frequência de consumo uma vez por semana ou a cada 15 dias (23%). Sobre a religião, esta pesquisa também mostrou resultados semelhantes, com 27% dos evangélicos afirmando consumir álcool, contra 50% de católicos. 

 

Jovens menores de idade também bebem

O estudo também investigou o comportamento de adolescentes de 16 e 17 anos, com dados tratados separadamente, e constatou que 27% deles já consomem bebidas alcoólicas. Esse dado é preocupante, pois a ingestão de álcool nessa fase da vida pode ter consequências danosas para o desenvolvimento dos adolescentes. 

Quem consome, consome quanto?

Entre os que costumam beber, a média registrada foi de 4,5 doses na semana anterior à pesquisa, considerando cada dose como um copo, lata, taça ou drinque. Vinte e três por cento  dos entrevistados afirmaram ter consumido mais de 6 doses no período considerado. 

Apesar disso, 81% dos consumidores dizem acreditar que bebem na medida certa, enquanto apenas 18% reconhecem que exageram, sendo que 11% dizem beber mais do que deveriam, e 7%, muito mais.

Queda no consumo: tendência ou percepção?

Quando perguntados sobre o padrão de consumo no último ano, 53% afirmaram que reduziram o consumo de álcool, 35% disseram que ele se manteve estável e apenas 12% relataram aumento.

Em contrapartida, a média de consumo permanece alta: 4,5 doses na semana anterior, o que já pode caracterizar o uso abusivo. Nesse sentido, duas coisas se evidenciam: a primeira, que boa parte da população ainda consome álcool em um padrão nocivo e, a segunda, o descompasso entre a percepção dos consumidores acerca do próprio consumo e as recomendações de saúde pública.  

A pesquisa do Ipec3, na mesma direção dos achados do Datafolha, revelou que, entre consumidores abusivos de álcool (que contabilizavam cerca de 17% da população à época da pesquisa), 75% acreditavam ser moderados, dos quais apenas 13% reconhecem que precisam mudar esse hábito.

Esses dados revelam que existe uma parcela importante de pessoas que abusam do álcool e ainda não percebem seu padrão de consumo como problemático, demonstrando a necessidade de políticas públicas que esclareçam sobre o consumo abusivo e seus danos.

Um dos maiores estudos já realizados sobre o tema, envolvendo mais de 2,4 milhões de pessoas ao redor do mundo, confirma que o consumo de álcool aumenta o risco de desenvolver câncer de pâncreas. A pesquisa, que acompanhou participantes por mais de 15 anos, mostrou que mesmo quantidades moderadas de álcool podem elevar as chances da doença, independentemente de a pessoa fumar ou não.

 

Um estudo internacional 1 publicado na revista científica PLOS Medicine analisou dados de mais de 2,4 milhões de pessoas de 30 países diferentes para entender melhor a relação entre o consumo de álcool e o câncer de pâncreas. Durante um acompanhamento de mais de 15 anos, os pesquisadores registraram mais de 10 mil casos da doença. Embora a relação entre o álcool e a pancreatite, um fator de risco importante para o desenvolvimento de câncer de pâncreas, já fosse bem estabelecida, a associação direta entre este tipo de câncer e a substância ainda tinha evidências limitadas ou inconclusivas. 

O que a pesquisa descobriu

Os resultados mostraram que para cada dose adicional de álcool consumida diariamente (equivalente a cerca de 10g de álcool puro), o risco de câncer de pâncreas aumenta em 3%. Para colocar isso em perspectiva, 10g de álcool correspondem aproximadamente a:

  • 1 lata pequena de cerveja (269 ml)
  • 1 taça pequena de vinho (100ml)
  • 1 dose de destilado (30 ml de whisky, vodka, etc.)

Para as mulheres: Quem consome entre 1-2 doses por dia tem 12% mais chances de desenvolver a doença, comparado a quem bebe muito pouco.

Para os homens: O risco aumenta 15% para quem consome 2-4 doses diárias, e salta para 36% entre aqueles que bebem mais de 4 doses por dia.

Álcool e cigarro: uma combinação perigosa, mas não só

Uma descoberta importante do estudo é que o álcool aumenta o risco de câncer de pâncreas mesmo em pessoas que nunca fumaram. Isso significa que não é apenas a combinação álcool + cigarro que é perigosa - o álcool sozinho já representa um risco.

Os pesquisadores encontraram praticamente o mesmo aumento de risco em:

  • Pessoas que nunca fumaram
  • Ex-fumantes
  • Fumantes atuais

Nem todas as bebidas são iguais

Outro achado interessante foi que diferentes tipos de bebida alcoólica parecem ter efeitos distintos:

Cerveja e destilados (whisky, vodka, cachaça): Aumentaram o risco de câncer de pâncreas.

Vinho: Não mostrou associação significativa com a doença, possivelmente devido aos compostos benéficos presentes na bebida, como os polifenóis. 

Diferenças pelo mundo

O estudo também revelou diferenças geográficas interessantes. O aumento do risco foi observado principalmente em:

  • Europa e Austrália
  • América do Norte (incluindo o Brasil)

Já nos países asiáticos, não foi encontrada essa associação, provavelmente porque muitas pessoas nessas regiões têm uma variação genética que as torna menos tolerantes ao álcool, fazendo com que bebam menos. 

O que isso significa na prática

O câncer de pâncreas é uma das formas mais agressivas da doença, com baixas taxas de sobrevivência. Por isso, entender os fatores de risco é fundamental para a prevenção.

Principais pontos para lembrar:

  • Mesmo o consumo moderado de álcool pode aumentar o risco
  • O risco cresce conforme aumenta a quantidade consumida
  • Mulheres parecem ser mais sensíveis, com riscos aumentados a partir de 1-2 doses diárias
  • Para homens, o risco fica mais evidente a partir de 2-3 doses diárias

Limitações do estudo

É importante mencionar que o estudo teve algumas limitações:

  • Analisou apenas o consumo de álcool em um momento específico, não ao longo de toda a vida
  • Não considerou padrões específicos de consumo, como "beber pesado" nos fins de semana
  • Baseou-se no que as pessoas relataram beber, o que pode ser subestimado

 

Conclusão

Esta pesquisa revela que o consumo de álcool, mesmo em pequenas quantidades, é um fator de risco modificável para o câncer de pâncreas. É importante estar atento a esses riscos, especialmente se você apresenta outros fatores predisponentes, como tabagismo, obesidade, diabetes tipo 2, pancreatite crônica ou histórico familiar da doença.

 

 

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