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Efeito analgésico do álcool: mitos e verdades

14 Mai 2017

Afinal, o álcool pode ter efeitos analgésicos? Confira mitos e verdades sobre esse tema.

Recentemente circulou na rede que um estudo publicado no Journal of Pain trazia a notícia que duas canecas de cerveja seriam mais eficazes do que o paracetamol para alívio de dores em geral. Vamos aos mitos e verdades sobre esse os resultados dessa pesquisa:

O álcool tem efeito analgésico.

Verdade! A pesquisa fez uma análise de 18 estudos e fornece sim, fortes evidências do efeito analgésico do álcool. Um teor médio de álcool no sangue de aproximadamente 0,08% (3-4 doses) reduz a intensidade da dor, o que poderia explicar o uso indevido de álcool por pessoas com dor crônica.

O objetivo do estudo era incentivar o uso do álcool para alívio das dores.

Mito! Na verdade, o objetivo era verificar a relação entre dor crônica e consumo abusivo de álcool. Enquanto a relação entre dor e consumo abusivo de opióides é largamente estudada, não se dá a devida atenção na relação que existe entre consumo de álcool e dor. Cerca de dois terços dos bebedores frequentes relataram sofrer com dor crônica. Esse fato merece um cuidado especial, já que estudos mostram que cerca de 25% da população se auto medica com álcool para alívio da dor.

O álcool é um substituto das medicações analgésicas convencionais.

Mito! Os estudos foram feitos em laboratório, induzindo a dor com estímulos, e não com pacientes que apresentavam dor clínica. Por isso não se pode extrapolar os resultados para situações reais. O mecanismo do álcool para o alívio da dor em humanos também não é conhecido.

Beber para aliviar a dor pode causar dependência.

Verdade! O nível de consumo de álcool necessário para manter a analgesia na dor crônica excede a recomendação da OMS. Os indivíduos estudados consumiram 3-4 doses* (homens) ou 2-3 doses* (mulheres) em um intervalo de pouco mais de 40 minutos, o que beira o padrão de binge. O reforço positivo do consumo de álcool, nesse caso o alívio da dor, é seguido do aumento da dor (hiperalgesia) após a interrupção do uso de álcool, que chamamos de reforço negativo. Assim, os indivíduos mantêm o consumo para que a dor não volte. A analgesia contínua requer o uso contínuo do álcool, levando à dependência e à tolerância ao uso.
*Dose padrão= 14g

Indivíduos com dor crônica preferem beber porque é mais eficiente do que tomar analgésico.

Mito! Analgésicos mais potentes, como os opióides são mais difíceis de se conseguir por conta própria, enquanto o álcool, além de barato, é de fácil acesso.

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© CISA, Centro de Informações sobre Saúde e Álcool