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Entrevista com Dra. Silvia Brasiliano

19 Dezembro 2018

Coordenadora do Programa da Mulher Dependente Química (PROMUD) fala sobre o consumo de álcool pelas mulheres.

Dra. Silvia Brasiliano é psicóloga, psicanalista. Doutora em Ciências pelaFaculdade de Medicina da USP. Coordenadora do Programa da Mulher Dependente Química (PROMUD) do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP. Sócia fundadora e tesoureira eleita nos biênios 2005-2007 e 2007-2009 da Associação Brasileira Multidisciplinarde Estudos sobre Drogas – ABRAMD.

1.Dados apontam para o aumento do consumo de álcool por meninas e mulheres, de forma mais precoce e no padrão de beber pesado episódico. Quais os motivos desse aumento?

O aumento do consumo de álcool em mulheres parece ser uma tendência em inúmeros países e não só no Brasil. As razões para este aumento não são totalmente claras. A hipótese mais aceita é a mudança nos padrões sociais em direção à igualdade entre homens e mulheres. Embora não consensual, vários estudos têm mostrado que em países onde a desigualdade de gênero é menor e a qualificação e capacitação são maiores, as diferenças de gênero no beber atual são menores. Quanto ao beber pesado episódico a diminuição da razão homem: mulher parece ser mais evidente entre as mais jovens, o que refletiria experiências e influências históricas que moldaram atitudes e comportamentos de beber dos indivíduos nascidos em determinada época.

2.O tratamento de mulheres dependentes de álcool é diferente do de homens?

Sim, em muitos aspectos. Em relação aos homens as mulheres apresentam muitas diferenças em: padrões, fatores de risco e razões para início de uso; morbidade física e psiquiátrica; taxa de mortalidade associada e experiências psicológicas e sociais. Estas diferenças devem ser consideradas no tratamento para a mulher, que deve atender às suas características e necessidades específicas. Abordagem da maternidade, psicoterapia em grupos só para mulheres, cuidados com o corpo e nutrição, diminuição de barreiras de acesso são estratégias terapêuticas fundamentais.

3.Apesar de toda a emancipação alcançada pelas mulheres, elas ainda enfrentam algum tipo de estigma quando são diagnosticadas como dependentes de álcool? Elas recebem o suporte familiar para dar prosseguimento no tratamento?

Apesar de que se possa dizer que há um preconceito em relação a qualquer dependência de álcool, as mulheres continuam sendo ainda mais estigmatizadas que os homens. Estereótipos de maior agressividade e tendência à promiscuidade sexual estão, ainda hoje, muito associados ao alcoolismo feminino.

As mulheres recebem muito menos suporte familiar que os homens. As figuras das mães e mulheres dos alcoolistas tão comuns nos serviços masculinos são muito raras nos programas para as mulheres. Negação, vergonha, altos índices de violência intrafamiliar e doméstica e abuso de álcool e drogas pelo companheiro são alguns dos fatores que dificultam o apoio familiar para as mulheres.

4.Quais são as principais consequências do consumo pesado de álcool na mulher?

Em primeiro lugar, como as mulheres têm menos água corpórea e menor nível sérico da enzima álcool-desidrogenase que os homens elas metabolizam apenas um quarto da quantidade de álcool ingerida. A principal implicação é que elas desenvolvem complicações físicas (cirrose hepática, pancreatite, cardiopatias, neuropatias, diabetes, osteoporose, fraturas de quadril, entre outras) mais precoce e gravemente que os homens, resultando em uma morbidade 1,5 a 2 vezes maior entre elas. O abuso de álcool aumenta também a chance de câncer de mama. A mortalidade por transtornos por uso de álcool é 50 a 100% maior entre as mulheres comparativamente aos homens. O abuso de álcool está ainda relacionado ao aumento da taxa de suicídio e de violência doméstica.

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